O Tríptico como narrativa visual

A oficina propôs trazer referencias estéticas e ouvir os projetos dos participantes de forma a orientar para algumas escolhas que viabilizem a realização de um produto de acordo com a perspectiva dos autores.


Oficina e curadoria: João Kulcsár

Ana Bia Novais — Rosa para Meninos


O projeto Rosa Para Meninos, desenvolvido na Residência Artística ELÃ 2021 realizada no galpão Bela Maré, reúne a cor rosa às linhas de algodão, aos espelhos, esmaltes, vestidos, entre outros materiais utilizados para compor a série e que são considerados pertencentes ao universo feminino. Os elementos são  unidos a frases coletadas durante os ensaios que registraram, em mais de 100 fotografias instantâneas, diversas pessoas lidas pela sociedade como masculinas. Pessoas estas que são, muitas vezes, reprimidas pelas suas sensibilidades e endurecidas pelas exigências de uma sociedade patriarcal. O conjunto de imagens busca provocar o espectador a se questionar sobre o que entendemos como masculino e feminino e quais os papéis desses títulos em nossa sociedade.​ A quem servem e para quê? 


Descrição: linha de algodão sobre papel fotográfico instantâneo. 8,5x5,5cm cada.

Ana Pose — Abrigo


Sentimentos e questões que me atravessam e não cabem em uma narrativa.
Lugares que estou, mas não estou, porém ao me desnudar e abandonar as máscaras protetoras entro em contato com a essência e e todos os lugares vão se encaixando e posso vê-los em mim, onde moram as lembranças, sonhos, paixões e todas as vivencias sentidas por esse corpo.

Beatriz Orle — Mães enterradas, mães que enterram


O presente trabalho tem a finalidade de retratar o sofrimento, a saudade de mães que têm o seu direito de exercer a maternidade enterrado. Elas acusam policiais militares de matarem seus filhos. Uma conexão entre dor pessoal e política, um mergulho nos bastidores, no que restou, lembranças e feridas deixadas, o clamor por justiça. Nesse caso, o primeiro ensaio foi realizado com a família de Emilly Vitória e Rebecca Beatriz, meninas baleadas enquanto brincavam na porta de casa em Duque de Caxias, Rio de Janeiro, no dia 04 de dezembro de 2020.


FOTO 1: Memorial Emilly e Rebecca, 2020, Mães enterradas, mães que enterram, Beatriz Orle.

A foto retrata uma homenagem feita à Emilly e Rebecca, baleadas em Duque de Caxias, no Rio de Janeiro, no dia 04 de dezembro de 2020, enquanto brincavam na porta de casa.

O mural, com o rosto das meninas, realizado em frente a rua do crime foi uma forma de manter viva a história delas e pedir para que violência não tire a vida de outras crianças.

Familiares e testemunhas acusam que o único disparo que as matou partiu de uma viatura da polícia militar.


FOTO 2: Cravado, Mães enterradas, mães que enterram, Beatriz Orle.

O mesmo disparo que atingiu Emilly acertou também sua prima Rebecca. Ao levar o tiro, Rebecca se apoiou nessa parede, manchando a mesma de sangue. Esse sangue não saiu após a sua morte, mesmo com os familiares tentando tirar. Como solução pintou-se de branco o pedaço que ficou cravado de sangue.


FOTO 3: Sem título, Mães enterradas, mães que enterram, Beatriz Orle.

Retrato de Emilly “sob pedaços”, representando a destruição de um futuro, de uma criança, de toda uma família.

Lua Cezimbra — Silêncios


Fragmentos da maternidade em pandemia, busca refletir sobre as subjetividades de mulheres mães, caladas pela construção social da maternidade. Durante a pandemia de Covid-19, as experiências maternas de “existir nas brechas do tempo”, “perder os contornos”, “ser privada do silêncio”, foram potencializadas e ignoradas pela necessidade de estar a serviço e cuidar do outro. O silêncio das mães veste-se também de culpa em uma cultura que se esquiva de sua responsabilidade com as mulheres e as crianças, cobrando das mulheres, o sucesso na profissão, na educação de seus filhos e na organização de seu lar. Os sentimentos de ambivalência e exaustão viram segredos sussurrados de mulher para mulher, segredos que tecem uma rede invisível de resistências. Resistimos pela certeza de não estar só.

Myllena Araujo — Multiplicidade


Multiplicidade é uma série fotográfica realizada em curso e apresenta três movimentos: o movimento das ruas, o movimento do ônibus e o movimento de acionar o disparador da câmera. A imagem revelada nunca se faz sincronizada, ela é uma sobreposição de corpo e de cidade, dividida e multiplicada em frames que alongam a conversa do olhar. O meu ateliê enquanto periférica é o transporte público, trabalho a partir da janela que se abre com a própria realidade, registro os caminhos pelos quais andei. A fotografia em múltiplos quadros é feito brecha, forma de atravessar e transpassar a rotina exaustiva de trajetos e coletivos lotados, é na fresta que a imagem acontece, com o corpo sempre em movimento, o olho vibra ao percorrer tantos quadros por segundo, buscando assim materializá-lo.

Robéria Oliveira


Quando vemos com os olhos do coração as sombras são oportunidades que nos encorajam à assumir o conflito, e, a nos tornarmos Rei de nosso próprio tabuleiro; de nosso caminho.

Rogério Rodrigues — Pescadores de Fortaleza


A muitos anos documento os pescadores da orla de Fortaleza e acompanho sua luta diária para levar o alimento para casa e para a sobrevivência material dos seus e do seu material de trabalho. Vejo as marcas do tempo em sua pele que vive de sol a sol , de estações a estações, de temporadas a temporadas, mas mesmo assim ele não perde a generosidade para com outro amigo do mar e de tantas lutas. Sabem eles que unidos são mais fortes que a luta de um é a luta de todos.

Tatiana Salomé


A pandemia revela duas tragédias relacionadas ao mesmo objeto – colchão. Uma ocasionada pela perda da moradia de um homem e a outra a falência da empresa que fornece o colchão. A mesma amplifica a pobreza e a miséria em que os brasileiros vivem. A que ponto chegamos de ter uma casa totalmente mobilhada no cruzamento de duas das principais avenidas de Belo Horizonte.

Thaiane Barbosa


Esta série fotográfica tem como objetivo registrar o processo criativo de mulheres artistas. Partindo da perspectiva que um processo artístico é algo não inato ao indivíduo. Acompanhamos com a série um conjunto de possibilidades de elaboração de fazeres artísticos. As fotografias revelam o processo criativo no cotidiano da construção dos trabalhos retratados, transitando entre imagens de cena e de bastidores.

Victor Praun — O Papangu 


17 de Fevereiro, Quarta-feira de Cinzas, Sítio Histórico de Olinda (PE). Diante de todo o contexto da pandemia COVID-19, passamos pela experiência de vivenciar um carnaval que não houve, sob o cuidado da situação e suas restrições em evitar aglomerações. Neste cenário, a proposta deste ensaio fotográfico, com sua totalidade de um pouco mais de 50 fotografias, foi criar um diálogo entre o olhar de uma câmera analógica com o ato de fotografar com a câmera de um celular, em materializar a sensação de reviver outros tempos e viver as possibilidades de um momento presente, enaltecendo a riqueza da cultura popular de um local ao referenciar suas tradições, suas brincadeiras, seus personagens e seus costumes.

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